domingo, 27 de dezembro de 2009


AO INVÉS DE ENTRAR EM PÂNICO... (PARTE 3)
- MEDO DE NÃO SER IMPORTANTE -

          Tememos não ter. Tememos o nada, a insignificância. Tememos a evaporação. Tememos não fazermos nenhuma contribuição para a soma final. Tememos ir e vir sem ninguém saber. É por isso que nos incomoda quando um amigo se esquece de ligar ou quando o professor esquece o nosso nome ou um colega leva o crédito por uma coisa que tenhamos feito ou quando a companhia aérea nos empurra como gado para o vôo seguinte. Eles estão afirmando a nossa trepidação mais profunda: ninguém se importa, porque não somos importantes o bastante para que alguém se importe. Por essa razão queremos tanto a atenção da nossa esposa ou do nosso marido ou a aprovação do nosso chefe, soltamos nomes de pessoas importantes nas conversas, usamos anéis da faculdade nos dedos, botamos silicone nos seios, calotas chamativas nos nossos carros, jóias nos dentes, e gravatas de seda em volta do pescoço.

           Estilistas nos dizem: “Você será alguém se usar a nossa calça jeans. Cole nosso nome na sua traseira e a insignificância desaparecerá.” Então o fazemos. E por algum tempo nos distanciamos dos “pequenos” e curtimos a promoção à sociedade dos “altos”. A moda nos redime do mundo da pequenez e do nada, e somos outra coisa. Por quê? Porque gastamos metade do nosso pagamento em uma calça jeans italiana.
          Mas depois, o horror dos horrores. O estilo muda, a moda passa, a tendência muda do apertado para o baggy, do desbotado para o escuro, e ficamos usando a calça jeans de ontem, nos sentindo como a notícia de ontem. Bem-vindo de volta à tribo dos “pequenos”. De que maneira você pode explicar a nossa afeição por marcas e atletas? Eu estou entre eles: sou fã do Vasco da Gama. Quando eles jogam bola, eu jogo bola. Quando eles fazem um gol, eu faço um gol. Quando eles vencem, eu ouso gritar com os outros milhares de torcedores: “Nós vencemos!” E no entanto, como eu ouso fazer tal afirmação? Eu fui a um único treino sequer? Enfrentei um time adversário? Contribuí com uma dica técnica ou suei uma gota de suor? Não. Eu o faria se eles pedissem. Mas eu sou insignificante, lento e ruim de bola se comparado a eles. Ainda assim eu pego carona na fama deles. Por quê? Porque isso me separa dos plebeus. Momentaneamente me eleva, me torna um herói.
          Junte-se a alguém especial e torne-se alguém especial, certo? Ou simplesmente sobreviva à vida. Quando o bilionário percebe que seu tempo vai acabar antes de seu dinheiro, ele cria uma fundação. Sem dúvida algum altruísmo motiva o ato, mas também o faz a fome de ter importância. Muitos têm filhos pelo mesmo motivo. Um dia, quando morrermos, nossos descendentes vão se lembrar do “Paizão” ou da “Maezinha querida”, estenderemos nossa vida através das deles. Calças Jeans italianas. Fundações. Legados. Sempre tentar provar que Bertrand Russell estava errado. Ele foi o ateu fatalista que concluiu: “Acredito que quando eu morrer, meus ossos se apodrecerão e nada restará do meu ego.” Até quando este medo será razão de pavor?

           A sociedade tem sua cota de almas indistintas que se sentem dispensáveis, descartáveis, valendo menos do que uma moedinha. Eles fazem rodízio de caronas e trabalham em cubículos. Alguns dormem sob papelão nas calçadas e outros sob seus cobertores no subúrbio. O que eles têm em comum é um sentimento de pequenez. Você encontrará um monte desses em um orfanato chinês para surdos-mudos. A política da China de apenas um filho por casal consegue eliminar os fracos. Os meninos têm preferência sobre as meninas. Bebês saudáveis são preferidos aos deficientes. Crianças chinesas que não podem falar ou ouvir têm poucas chances de ter uma vida saudável e produtiva. Todas as mensagens lhes dizem: “Você não é importante.”
          Então, quando alguém diz o contrário, elas se derretem. O missionário chinês John Bentley descreve um momento como esse. Órfãos surdos na província de Henan receberam uma tradução para o mandarim de um livro infantil do escritor Max Lucado intitulado You Are Special – “Você é Especial”. A história descreve Punchinello, uma pessoa de madeira em um vilarejo de pessoas de madeira. Os habitantes tinham o costume de colar estrelas nas pessoas bem-sucedidas e pontos nas pessoas que tinham dificuldades. Punchinello tinha tantos pontos que as pessoas lhe davam mais pontos sem motivo algum. Mas aí ele conheceu Eli, seu criador. Eli lhe deu afirmação, dizendo-lhe para desconsiderar a opnião dos outros. “Eu fiz você. Eu não cometo erros.” Punchinello nunca tinha ouvido tais palavras. Quando ouviu, seus pontos começaram a cair. E, quando as crianças do orfanato chinês ouviram tais palavras, seu mundo começou a mudar. Quando na leitura apareceu a idéia de que eram especiais simplesmente porque foram feitos por um criador cheio de amor... todo mundo começou a chorar, incluindo seus professores.



CONTINUA...


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